Apreensões de fuzil brasileiro legalizado nas mãos do crime explorem em 2022
Um levantamento do GLOBO em parceria com o @institutosoudapaz revela que apreensões de fuzis T4, de fabricação nacional, com criminosos explodiram em 2022 no Rio, em São Paulo e em Minas Gerais. Isso é um efeito direto da flexibilização do acesso legal a esse tipo de armamento através dos CACs.
Ao todo, 34 destes modelos foram apreendidos nos 3 estados de janeiro até outubro deste ano. Nos três anos anteriores somados, foram 15 ao todo. Quase 90% dos T4 recolhidos pela polícia nestes estados desde 2019 estavam com traficantes. Seis foram usados para atacar policiais.
Os números são resultado de um cruzamento entre dados das armas apreendidas obtidos via Lei de Acesso à Informação, registros de ocorrência, relatórios internos das polícias e fotografias dos fuzis.
O T4 foi lançado pela Taurus em 2017 e inicialmente tinha circulação bastante limitada no país. Como é uma arma de calibre restrito, só podia ser vendido para forças de segurança. No entanto, no ano de lançamento, em uma feira de armas, o então pré-candidato à presidência Bolsonaro posou para fotos com o modelo, o chamou de “o nosso T4” e prometeu que, em seu governo, autorizaria a compra por civis. Dito e feito: em 2019, no primeiro ano no cargo, o Exército publicou uma portaria que liberava a aquisição e o uso de fuzis por CACs. E um decreto do presidente no mesmo ano deu permissão a atiradores desportivos a para a compra de até 30 fuzis.
Após as mudanças, o T4, cujo preço não chega a R$ 20 mil, virou um fenômeno de vendas. Segundo a Taurus, até o início desse ano, quase 60 mil unidades haviam sido vendidas. Desde setembro, entretanto, CACs não podem mais comprar fuzis, porque o ministro do Supremo Tribunal Federal Edson Fachin decidiu que a aquisição de armas de uso restrito só pode ser autorizada “no interesse da segurança pública ou da defesa nacional, não em razão do interesse pessoal”. A decisão, entretanto, não afetou as armas que já fazem parte do acervo dos CACs, que seguem com autorização para usá-las e transportá-las para clubes de tiro.
A gente já tá meio cansado de dizer, mas vamos repetir: mais armas em circulação, mais o crime tem possibilidade de se armar.
Via @jornalextra