Saúde

Estudo mostra que vírus Sars-Cov 2 se aloja nos testículos, e questiona qual o impacto que isto teria na fertilidade masculina

 

Pesquisa científica foi coordenada por urologista da Rede Mater Dei de Saúde

e analisou comportamento viral em pacientes que morreram vítimas de

complicações da Covid-19

 

Estudo iniciado em 2020 por médicos e pesquisadores mineiros jogou luz sobre a

influência do vírus SARS-CoV2 – que causa a Covid-19 – na infertilidade masculina, e

constatou que a doença, afeta diretamente todo o tecido testicular, dos pacientes que

faleceram da doença, ou seja pacientes que se manifestaram com a forma grave da

doença. Ainda não se sabe se as formas leves e moderadas da doença têm impacto

temporário ou definitivo na fertilidade dos homens. A pesquisa foi submetida à revista

científica internacional, com revisão de pares, para possível publicação.

 

A proposta da investigação partiu da constatação de que diversos vírus ficam alojados

no testículo, considerado um “santuário viral”. Sabendo disso, o grupo de médicos e

pesquisadores capitaneados pelo urologista Marcelo Horta Furtado, que integra o

Serviço de Reprodução Humana da Rede Mater Dei de Saúde e se dedica a um

mestrado em saúde pública pela Universidade de Harvard, se debruçou sobre a

literatura científica e se deparou com um artigo sobre a identificação de alterações

importantes nos testículos de seis pacientes que morreram em decorrência da

infecção por SARS-CoV-1, no ano de 2006. Muito antes da Covid -19 afligir o mundo,

o SARS-CoV-1 foi identificado como agente da epidemia de síndrome respiratória

aguda grave (Sars), iniciada na China no fim de 2002.

 

A partir dessa primeira constatação, a equipe decidiu avançar na investigação. “Após

encontrarmos esse indício importante envolvendo o vírus da SARS, outro ponto que

nos chamou a atenção foi perceber que o vírus da Covid, o SARS-CoV-2, usa um

receptor da membrana celular, abundante no testículo, para infectar as células

humanas. Então, nos pareceu ser uma ideia plausível e nos sentimos chamados a

contribuir e gerar conhecimentos para a sociedade nesse momento crítico que

vivenciamos nos dois últimos dois anos”, diz Marcelo Furtado.

 

Para levar a investigação científica adiante, os médicos convidaram o pesquisador

Guilherme Costa, do Departamento de Morfologia da Universidade Federal de Minas

Gerais (UFMG), e contaram com a colaboração de uma dezena de pesquisadores da

própria universidade mineira, da Universidade Estadual Paulista — São José do Rio

Preto (SP) e da Faculdade de Medicina da Universidade de Pittsburgh (EUA). Juntos,

planejaram o estudo envolvendo pacientes que vieram a óbito nos Hospitais da Rede

Mater Dei, em decorrência de complicações da Covid-19. A pesquisa foi autorizada

Março/2022pelo Comitê Nacional de Ética e Pesquisa (Conep), pelo Comitê de Ética e Pesquisa

da Mater Dei e teve o consentimento legal dos familiares de todos os pacientes.

“O objetivo era avaliar se realmente havia acometimento dos testículos, determinar

possíveis mecanismos do dano e investigar a presença e persistência do vírus no

tecido testicular. E para nossa surpresa, os danos ao tecido testicular foram

confirmados em todos os 11 pacientes estudados. Ele mostrou-se mais intenso de

acordo com o tempo de internação no CTI, ou seja, quanto mais tempo no CTI mais

severo o dano ao órgão”, diz Furtado.

 

Segundo o médico, durante as observações, a equipe percebeu que todas as células

testiculares dos pacientes avaliados estavam afetadas. Não somente as da linhagem

germinativa – que dão origem aos espermatozoides -, mas também as células de

Leydig, que produzem a testosterona. Notou-se, inclusive, que a testosterona

intratesticular encontrava-se bastante diminuída. “Isso nos indica que o vírus atinge a

região vital para a fertilidade masculina, comprometendo todos os tecidos que ali estão

e podendo afetar a capacidade reprodutiva do homem”, acrescenta o urologista.

 

Nanosensores e técnicas modernas

 

Para a confiabilidade do estudo, foram usadas

técnicas modernas, com alto grau de assertividade, como a microscopia eletrônica,

marcações imuno-histoquímicas, exames de PCR com “primers” específicos e as

realizadas por nanosensores desenvolvidos no Departamento de Microbiologia da

UFMG. Foi a partir daí que eles tiveram outra surpresa: “Verificamos que o

SARS-CoV-2 ainda estava presente no tecido testicular e com alta capacidade

replicativa. Retiramos uma amostra e a submetemos a um teste em células vero, que

permitem a replicação celular. Constatamos que os vírus achados nos tecidos

testiculares dos pacientes e também nos túbulos seminíferos (túbulos onde são

gerados os espermatozoides) ainda tinham capacidade infecciosa”, acrescenta

Marcelo Furtado.

 

A partir desse novo achado, um estudo adicional está sendo realizado em dois grupos

de pacientes: assintomáticos ou pouco sintomáticos que tiveram diagnóstico

confirmado de Covid-19 e pacientes com sintomatologia moderada/severa, com

diagnóstico de Covid-19, mas que se recuperaram após um período de internação

hospitalar. Este novo trabalho visa determinar a presença do vírus SARS-CoV-2 no

sêmen e avaliar o comprometimento da fertilidade nesses homens, usando métodos

tradicionais e de inteligência artificial.

 

Para o urologista, a pesquisa contribui para o entendimento do comportamento do

vírus no corpo humano e sugere alguns mecanismos celulares e moleculares pelo qual

ele acomete os tecidos. “Contribui ainda para o desenvolvimento de novas tecnologias

para aperfeiçoar o diagnóstico de doenças virais, não apenas da Covid-19. A

sociedade precisa entender que todo avanço da medicina de que hoje ela desfruta

veio por meio de muita pesquisa científica. O conhecimento da natureza, de como ela

Março/2022 funciona, é extremamente importante para que possamos viver uma vida plena e

segura. Esta pandemia nos mostrou o quanto ainda temos que avançar no

conhecimento da natureza e o quanto precisamos investir em ciência no Brasil, que

enfrenta uma concorrência com grupos de pesquisas internacionais”, complementa.

 

Sobre a Rede Mater Dei de Saúde

Somos uma rede de saúde completa, com 41 anos de vida, tendo o paciente no centro de tudo

e ancorada em três princípios: inteligência e humanização como pilares do atendimento;

tecnologia como apoio da excelência; e solidez das governanças clínica e corporativa. Nossos

serviços médico-hospitalares estão disponíveis para toda a família, em todas as fases da vida,

com qualidade assistencial e profissionais altamente capacitados e especializados. Estamos

em expansão, levando para mais pessoas o Jeito Mater Dei de Cuidar e de Acolher. Nossa

premissa é valorizar a vida dos nossos pacientes em cada atendimento, disponibilizando o

melhor que a medicina pode oferecer.

 

Unidades

Minas Gerais: Hospital Mater Dei Santo Agostinho, Hospital Mater Dei Contorno, Hospital Mater

Dei Betim-Contagem, Hospital Santa Genoveva, CDI Imagem e Hospital Santa Clara*

Bahia: Hospital Mater Dei Salvador (inauguração em breve) e Hospital EMEC*

Goiás: Hospital Premium

Pará: Hospital Porto Dias

* Sujeito ao closing

 

 

Créditos Fotográficos Hospital Mater Dai