Movidos a investimentos asiáticos, Manchester City e Inter decidem hoje a Champions
A Inter, que tenta seu quarto título europeu, fez uma campanha mais discreta, com duas derrotas, mas aposta no bom momento conseguido nas semifinais, diante do rival Milan, e na força de atacantes como Lukaku, Dzeko e Lautaro.
City x Inter — Foto: Arte O GLOBO
Do ponto de vista do torcedor europeu, tudo se resume a dinheiro estrangeiro comprando seus clubes. Mas há diferenças para além da origem destes recursos. Enquanto a onda árabe se fortaleceu, recebeu uma Copa (Catar-2022) e já busca a segunda (Arábia Saudita-2030), a chinesa perdeu musculatura e retrocedeu. Os investidores do país se desfizeram de diversas aquisições e fecharam clubes da própria liga nacional, que em 2016 foi a quinta no mundo que mais gastou com contratações.
O investimento chinês no futebol ocorreu na esteira de um período marcado pela aquisição de ativos no exterior nos mais diversos setores. O objetivo era gerar lucros e levar dinheiro para dentro do país, retroalimentando a economia interna.
Em meio a isso, o governo lançou seu plano de desenvolvimento do futebol. Foi o empurrão para que empresários adquirissem equipes locais, seduzissem estrelas mundiais com salários astronômicos e, externamente, comprassem clubes europeus. Os italianos Inter e Milan foram os casos mais emblemáticos. Mas houve aquisições também no futebol inglês e espanhol.
Mas os gastos desenfreados cobraram seu preço. Os clubes chineses (e seus proprietários) acumularam dívidas grandes demais para serem pagas. O governo, então, apertou o cerco.
— O movimento não era estruturado. E ruiu à medida que o governo obrigou cortes nos investimentos locais e praticamente forçou o rompimento dos investimentos no futebol europeu para levar recursos para a China — explica o economista Cesar Grafieti, sócio da consultoria Convocados.
A crise também bateu à porta de alguns clubes europeus pela má gestão dos proprietários chineses. O Milan, por exemplo, chegou a ser excluído de competições da Uefa por não respeitar o Fair Play financeiro.
A Inter passou os últimos anos em meio a notícias de que o Suning estava à procura de um comprador. Um empréstimo de 275 milhões de euros, em 2021, trouxe alívio. Mas o vencimento é daqui a um ano. E já se especula que o clube, dado como garantia, possa mudar de mãos.
A estratégia de adquirir clubes na Europa e fortalecer a liga caseira é a mesma adotada pelos árabes. A segunda parte deste plano ganhou holofotes esta semana com as contratações de Benzema e Kanté pelo Al-Ittihad, da Arábia Saudita. A Saudi Pro League é a mesma do Al-Nassr, que desde o início do ano conta com Cristiano Ronaldo; e do Al-Hilal. Na última segunda, o governo saudita anunciou uma espécie de estatização destes três e do Al-Ahli.
— A população da Arábia Saudita é composta, em 70%, por menores de 35 anos. Esses Millenials e integrantes da geração Z querem uma vida ocidentalizada. A família governante, para manter o seu poder, aposta nesse ‘acordo’: “Vamos dar a vocês esportes de alto nível, mas não nos causem problemas” — afirma Simon Chadwick, professor de Esportes e Geopolítica Econômica na SKEMA Business School, em Paris:
A partir de agora, 75% destes quatro clubes pertencem ao fundo soberano saudita, o mesmo que lidera o consórcio dono do Newcastle. O uso do dinheiro das famílias governantes é uma das principais diferenças do projeto árabe para o chinês — uma parceria do estado com o empresariado. Além da vinculação do City com Abu Dhabi, o PSG pertence à Qatar Sports Investments, subsidiária do fundo soberano qatari.
Outros negócios
Mas o sucesso financeiro da investida dos países do Golfo não pode ser posto na conta apenas da maior quantidade de dinheiro à disposição. Há também uma gestão mais qualificada, ao menos no braço europeu da empreitada.
— Os primeiros casos de investimento mais robusto, no PSG e no City, renderam bons frutos para os acionistas — diz Grafietti.
Embora os times sejam vistos como um negócio em si, outros maiores e possivelmente mais lucrativos acompanham a chegada dos investidores esportivos nos países. É neste ponto que interesses e estratégias de chineses e árabes mais convergem.
— Quando o City Football Group anunciou sua franquia em Chengdu, na China (Chengdu Rongcheng FC), isso ocupou todas as manchetes de jornal. No dia anterior, a Etihad Airlines anunciou que Chengdu receberia um de seus novos hubs no Leste da China — lembra Chadwick,acrescentando a investida do grupo na Itália:
— Não podemos esquecer que o grupo também pertence, parcialmente (8,2%), à China Media Capital. A China, por sua vez, tenta comprar o Porto de Palermo, na Sicília. Onde o City abriu sua franquia na Itália? Em Palermo.
Fonte : Globo.com