Mulher obtém certidão de nascimento aos 52 anos
Judiciário autorizou a emissão do registro tardio do documento de identidade
O tema da redação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), em 2021, foi sobre as pessoas chamadas de “invisíveis”, que não têm acesso à cidadania no Brasil por não terem o registro civil de nascimento. O debate tem se tornado comum e reflete a realidade de cerca de 3 milhões de pessoas no país, como a dona de casa Francisca Wanda de Oliveira, que, só aos 52 anos de idade, conseguiu autorização da Justiça para obter a certidão de nascimento. Com o passar do tempo, necessitou de cuidados especiais. No início da pandemia de covid-19, Francisca Oliveira teve que se vacinar. Foi ao posto de saúde na Vila Pinho, no Barreiro, região sudoeste de BH, e não foi imunizada pela ausência da carteira de identidade. A assistente social do posto, Aline de Souza, e a agente comunitário Laura Aleixo tentaram resolver o problema e encaminharam o caso para o Cartório de Registro Civil e Notas do Barreiro.
“Nós fazemos muitos registros de nascimento tardio. E essa mulher, de fato, não possuía certidão de nascimento. No final, deu tudo certo e lavramos o registro de nascimento tardio dela, com a autorização da Justiça”, explicou a titular do cartório, Letícia Franco. A juíza da Vara de Registros Públicos da capital, Maria Luiza Rangel Pires, elogiou o atendimento diferenciado que a mulher recebeu, com o empenho de diversos profissionais desde o primeiro momento no posto de saúde, passando pelo cartório extrajudicial até chegar com o pedido na Justiça estadual. “É preciso ter esse olhar humanizado para efetivamente resolvermos a situação de cada cidadão”.
A magistrada ressaltou que os casos de registro tardio não são situações raras no Brasil. Segundo ela, acontecem, normalmente, com pessoas que tiveram uma vida inteira em situação de rua ou com quem nasceu em regiões no interior do Estado sem acesso a esse tipo de serviço porque os cartórios de registro civil eram distantes. |