O Pêndulo dos Pitches

* Por Francisco Perez

O Brasil deu partida ao financiamento sistemático de startups quase que exclusivamente por meio de recursos públicos, com raras iniciativas de risco privado, particularmente no período que vai de 1967 a 2006. Nesta fase pioneira, praticamente só havia o Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT) e a Financiadora de Estudos de Projetos (FINEP) que dominavam um cenário ainda bastante incipiente. Somente a partir dos anos 2010 o capital de risco privado passou a desempenhar um papel mais decisivo no ecossistema nacional.

Em qualquer contexto de intensa escassez na oferta, a demanda fica de joelhos. Essa é uma das mais antigas leis dos mercados. Por isso, até pouco tempo os chamados pitches reversos ainda eram uma novidade. O esperado era que a startup vendesse o seu peixe de porta em porta. Não são raros os fundadores que afirmam terem apresentados mais de mil pitches.
Esse padrão se manteve por tanto tempo que acabou naturalizando ideias equivocadas do ponto de vista dos negócios, de que existe um desequilíbrio entre empreendedores e investidores, sempre a favor dos últimos. O fato é que nem o empreendimento é menos valioso do que o recurso financeiro, nem o investidor é mais importante do que o empreendedor.
Pelo contrário, o pêndulo entre esses atores oscila, ora para um lado, ora para o outro. Essa, sim, é a natureza do mundo dos negócios: a alternância das posições de liderança na volátil dinâmica dos interesses, no caso, o sofisticado jogo do Venture Capital, um jogo que requer muita atenção e sensibilidade. Nele, os mais experientes e bem-sucedidos são aqueles que já aprenderam a valorizar todas as partes, sabendo que elas precisam atuar em colaboração para o crescimento dos empreendimentos.

Curiosamente, nem o crescimento vertiginoso da quantidade de startups no ecossistema brasileiro, especialmente a partir de 2017, superou, proporcionalmente, o número de deals realizados.

Embora pareça até certo ponto contraintuitivo, a proporção entre o número de deals e startups entre 2000 e 2021 na verdade está em crescimento. Mesmo as atuais 14.065 startups identificadas pela ABStartups não alteram a tendência de aumento da razão Deals ÷ Startup. Ou seja, por mais que o número de startups seja grande, ainda assim, cada vez mais, existem mais oportunidades de negócio.

*Francisco Perez é diretor de Novos Negócios, responsável pelo Hub de Inovação Alfa Collab e pela Área de ESG do Alfa



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