Palestras da Ejef abordam o superendividamento
Evento foi promovido em parceria com equipe do Fórum de Muriaé, na Zona da Mata A Escola Judicial Desembargador Edésio Fernandes (Ejef), em parceria com o Fórum de Muriaé, na Zona da Mata mineira, promoveu na sexta-feira (11/3), como parte das ações do “Projeto Juscidade — Justiça, Cidadania e Dignidade”, duas palestras sobre educação financeira e superendividamento, à luz da Lei 14.181, de julho de 2021.
O colaborador do Sebrae Minas Francisco Herédia, que é analista de negócios na regional Zona da Mata e Vertentes, responsável pela microrregião de Muriaé, falou sobre as formas de manter as finanças em dia. Já a juíza Alinne Arquette Leite Novais, titular da 4ª Vara Cível da Comarca de Muriaé e diretora do Foro local, discorreu sobre a prevenção e o tratamento do superendividamento, abordando as inovações do Código de Defesa do Consumidor (CDC) para preservar a dignidade dos cidadãos. Mediação
A mediação dos debates foi feita pelo juiz Juliano Carneiro Veiga, magistrado da Vara de Execuções Criminais, da Infância e da Juventude e de Cartas Precatórias Criminais, coordenador do Centro Judiciário de Solução de Conflitos e Cidadania (Cejusc) de Muriaé e integrante do Núcleo Permanente de Métodos Consensuais de Solução de Conflitos (Nupemec) do TJMG.
O magistrado explicou ainda que a Comarca de Muriaé iniciou um programa voltado para a realização de audiências de conciliação envolvendo tanto credores quanto consumidores em situação de superendividamento. “Temos uma parceria com o Procon e a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). Em 2022, realizamos as primeiras audiências coletivas com os consumidores que estavam com as finanças em situação complicada e que acumulavam dívidas que comprometiam o mínimo existencial”, explicou. Reflexão
O analista de negócios Francisco Herédia explicou que o objetivo da sua palestra era levar os participantes a uma reflexão, sobretudo àqueles que se encontram em uma situação financeira difícil. “Ao falar sobre as formas de manter as finanças em dia, queremos que as pessoas adquiram conhecimento para tomar a melhor decisão na hora de realizar sonhos e projetos.”
Francisco Herédia lembrou ainda que todas as pessoas têm sonhos e projetos que podem ser ilimitados; mas, para a maioria da população, os recursos para colocá-los em prática são limitados. Ele afirmou também que a educação financeira é uma ferramenta importante, que se apoia no tripé segurança, liberdade e independência, que são os fatores almejados pelas pessoas ao gastar dinheiro. O analista citou dados de uma pesquisa de 2018, realizada pelo Banco Central, que atesta que 41,6% das famílias brasileiras têm dívidas com o sistema financeiro. Segundo ele, após a pandemia, especula-se que o cenário esteja ainda pior.
Realidade
O professor ainda falou um pouco sobre finanças comportamentais, apresentando o risco de que as pessoas tomem decisões com base em uma realidade distorcida e com excesso de confiança. “Muitos indivíduos acham que podem executar algum plano, porém sem ter as reais condições para isso. Muitos também decidem fundamentados na emoção e não na razão. Ao pensar numa aquisição, precisamos refletir se temos desejos ou necessidades reais.”
Sempre que o consumidor quiser efetivar sonhos e projetos, o professor explica que ele precisa se planejar e entender o que pretende fazer, quem está envolvido, quanto a ação custará e quanto tempo ela levará para ser realizada. “Também precisamos calcular quanto precisamos guardar por mês e estabelecer um cronograma”, ensinou. Renegociação
O palestrante apresentou as causas mais comuns do superendividamento, como o consumo exagerado, o uso de crédito fácil com juros muito altos e a manutenção de um padrão de vida superior às condições financeiras. Vencer o problema, segundo ele, exige reconhecer os erros, agir para mudar o perfil das decisões financeiras e mapear as dívidas. Envolver a família e não fazer novas dívidas são outros passos necessários, seguidos da renegociação e da adoção de hábitos financeiros mais saudáveis.
Em sua palestra, a juíza Alinne Arquette Leite Novais abordou a Lei 14.181, de julho de 2021, falando sobre as inovações que a nova legislação trouxe ao CDC para preservar a dignidade da pessoa humana. “O superendividamento é uma questão sensível, que extrapola o âmbito financeiro. Ele abala a dignidade do consumidor. Por isso, precisamos de uma efetiva aplicação da lei”, defendeu.
“Sabemos da importância do crédito para movimentar a economia, mas a sua concessão deveria estar envolvida em uma decisão responsável do consumidor e também do fornecedor. Mas não é isso que vemos”, descreveu. A magistrada ressaltou ainda a exclusão social dos indivíduos superendividados, que deixam de se movimentar financeiramente no mercado. Por todas essas razões, a juíza afirmou que o consumidor precisa de proteção. Isso é ainda mais necessário para os cidadãos em situação de maior vulnerabilidade, como idosos e analfabetos. Cuidados
“Cabe ao fornecedor se desdobrar para informar adequada e detalhadamente o consumidor, evitando dados truncados”, alertou. E, para a magistrada, cabe ao juiz analisar cuidadosamente os casos concretos, avaliando se as informações foram disponibilizadas com clareza no momento da contratação ou aquisição. “Vale lembrar que a lei protege o consumidor que iniciou um processo de superendividamento sem má-fé, ou seja, aquele que não deseja dar calote”, esclareceu. A íntegra das palestras está disponível na página da Ejef.
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